A canção de Rezső Seress e László Jávor “Gloomy Sunday”, ou “Domingo Sombrio”, pode ser uma das canções mais deprimentes já registradas, e é comumente chamada de “A Música Húngara do Suicídio” por causa de sua ligação a uma onda de suicídios no século 20. Mas poderia essa música assumidamente triste realmente desencadear um comportamento suicida?
“Domingo sombrio” é uma canção envolta em lendas, que até mesmo detalhes de sua criação são incertos. Nós sabemos que a música foi escrita por Rezső Seress e as letras foram escritas por László Jávor, e foi primeiro gravada por Pál Kalmár em 1935. Algumas versões da lenda dizem que a canção foi inspirada pelo rompimento de Seress com uma amante, e mais tarde se matou; outros afirmam que era a namorada do suicida Jávor que inspirou a canção. A música é contada a partir da perspectiva de uma pessoa cujo amor morreu e está contemplando o suicídio, a fim de se reunir com ele, acompanhada por uma melodia particularmente melancólica. Seress se suicidou em 13 de janeiro de 1968. Em seu obituário, o New York Times relatou que “Domingo Sombrio” tinha deixado Seress deprimido porque ele temia que nunca conseguiria criar outra canção de sucesso.
Contos de conexões da canção ao suicídio começam antes mesmo dela ter sido publicada, com uma lenda urbana alegando que a segunda editora recebeu a partitura e se matou logo em seguida. Mas “Gloomy Sunday” foi um sucesso indiscutível na época da depressão Húngara, e fez certo sucesso no exterior. Billie Holiday gravou sua versão de “Domingo Sombrio” em 1941, e, a partir de 2008, a canção tinha sido gravada 79 vezes por artistas como Lou Rawls, Ray Charles, Elvis Costello, Sarah McLachlan, e Björk. (No entanto, algumas das gravações em inglês suavizam o tom da canção, adicionando uma terceira estrofe que sugere que a morte era apenas um sonho). Ela ainda inspirou um filme de 1999 de Ein Lied von Liebe und Tod (Gloomy Sunday – Uma Trágica Canção), que gira em torno de um relato fictício de criação da música.
Um artigo de março de 1936 na Time Magazine lista uma onda de suicídios na Hungria que estava supostamente ligada à música: um sapateiro citou a canção em sua nota de suicídio; duas pessoas tiraram suas vidas ouvindo a música; pessoas declaradamente se afogaram nas águas do Danúbio com a partitura. E relatos de comportamento suicida ligados à música não se limitam apenas à Hungria. Na década de 1930, o New York Times informou sobre suicídios e tentativas nos EUA ligados ao “Domingo Sombrio.” A canção foi banida pela BBC até 2002, e de acordo com alguns relatos, certos pontos de venda nos EUA recusaram-se a tocar a música, temendo que ela era de algum modo responsável por estes suicídios. Ao todo, a música foi responsabilizada por pelo menos 100 suicídios em todo o mundo.
Mas é claro que a correlação não iguala a causa. Muitas dessas mortes ocorreram em meio à Grande Depressão, quando “Gloomy Sunday” era bastante popular. E em discussões sobre “Gloomy Sunday”, é frequentemente observado que a Hungria tem uma invulgarmente elevada taxa de suicídios. (Na verdade, as altas taxas de suicídio entre as culturas fino-úgricas do passado e do presente têm levado a especulações de que pode haver um gene que predispõe alguns membros dessas populações ao comportamento suicida.) E há uma alta correlação entre a aprovação do suicídio e ser um fã de música pesada ou blues, mas os pesquisadores descobriram que não havia uma correlação especial por estado civil, idade, sexo, educação, conservadorismo e frequência à igreja.
Isso não exclui a possibilidade de que “Domingo Sombrio” ou qualquer outra obra de arte pode ter efeito suicida. Na verdade, o termo “Efeito Werther”, que refere-se a um pico de suicídios emulando um suicídio amplamente divulgado (real ou imaginário), foi cunhado pelo sociólogo David Phillips depois o romance do Johann Wolfgang von Goethe, “Os Sofrimentos do Jovem Werther”. O personagem principal tira a sua própria vida, e após a publicação do livro, em 1774, a Europa viu uma onda de suicídios como imitação. A questão é saber se as pessoas buscam essas obras porque já pensam no suicídio ou se é ouvir ou ler essas obras que abre a porta para o comportamento suicida.