na Europa, atingiu seu apogeu e declinou, deixando um rastro de milhares de pessoas
processadas, torturadas e mortas. Esses acontecimentos estão diretamente associados a um
fenômeno social bastante específico, que os pesquisadores atuais têm chamado com cada vez
mais frequência de "bruxaria européia", para distingui-lo de outras manifestações até certo
ponto correlatas.
Nossa intenção nesse artigo é discutir brevemente se, no Brasil dos tempos coloniais,
esse mesmo fenômeno se manifestou, ou seja: se houve aqui bruxas no sentido que estas eramentendidas na metrópole, e se o temor a elas obedecia os mesmos padrões que podemos
encontrar nos casos europeus. Para isso, cabe fazer algumas considerações iniciais sobre o que
seria a "bruxaria européia".
A crença em bruxas é um fenômeno universal. Elas surgem, sob variados nomes, em
todas as culturas e existem muito poucas variações nos poderes que são a elas atribuídos. Jeffrey
Burton Russell (1993), no entanto, faz uma diferenciação entre aquilo que ele chama de
feitiçaria e a bruxaria propriamente dita, estando a primeira associada a crendices e
superstições, bem como a determinadas práticas de curandeirismo, de raízes ancestrais, difusas
no seio das populações, enquanto a segunda estaria relacionada a um culto organizado,
geralmente envolvendo o pacto com o demônio. Eu acrescentaria a essa divisão, para maior
clareza, a figura da curandeira ou xamã, que se distinguiria das duas outras classificações por
agir, de forma geral, para provocar benefícios e não malefícios, como as duas classes anteriores.A bruxaria européia surgiu justamente da união da figura da feiticeira, já formada no
imaginário popular, com componentes das diversas seitas heréticas surgidas no seio da Igreja
Católica desde a Idade Média. Ou seja: uniram-se os poderes e malefícios característicos da
feiticeira com os componentes de organização, desafio e conspiração contra a Igreja
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