sábado, 9 de janeiro de 2016

Klu Klux Klan, que aterrorizou os EUA até a década de 60, está presente também no Brasil e possui admiradores que pregam o ódio

A Klu Klux Klan foi a mais famosa e poderosa organização secreta racista dos Estados Unidos, tendo seu nome associado ao medo ao redor de todo o mundo, especialmente até o final da década de 60. O maior objetivo da organização era prezar pela supremacia da raça caucasiana, combatendo a integração e a igualdade racial.


O termo “Ku Klux”, de acordo com especialistas, têm origem da palavra grega “kyklos”, que significa “círculo”. O termo “Klan” foi adicionado para dar a sonoridade do “KKK”, e faz referência à palavra “clã”, porém trocando o “C” pelo “K”.

Uma curiosidade sobre a temida organização, é justamente sua origem. O que virou uma instituição sangrenta e intolerante, começou como uma grande “brincadeira”, em 1865, envolvendo seis jovens. Calvin Jones, Frank McCord, Richard Reed, John Kennedy, John Lester e James Crowe decidiram se juntar para fundar uma associação com o único objetivo de prolongar a fraternidade das armas. Ela não tinha cunho político ou social, mas pelo fato dos amigos serem extremamente racistas, eles, que usavam capuzes brancos para desfilar na cidade, decidiram assustar e perseguir negros, em sua grande maioria, ex-escravos que haviam sido libertados na Guerra de Secessão. Por conta de suas crenças de origem africana, os negros acreditavam, muitas vezes, que os membros da organização eram fantasmas de mortos na guerra. 

O que não passava de diversão para o grupo de jovens preconceituosos, acabou virando uma bola de neve com simpatizantes que ouviram falar da organização. A partir daí, as ações começaram a ter o objetivo de não permitir que os negros fossem integrados à sociedade, principalmente pela compra de terras – já que a maioria dos membros pertencia à classe alta -, e seus membros começaram lutar para que os negros não pudessem votar, com ameaças de morte.


Os que defendiam a igualdade racial também viraram alvos da Ku Klux Klan, principalmente os professores de escolas exclusivas para negros, sob a justificativa de que eles estariam “instruindo” membros “indesejáveis” para a sociedade, dificultando a volta da escravidão, defendida pela organização. 

Com o número crescente de crimes relacionados à KKK, além de violência, depredação e perseguição, o Governo dos Estados Unidos reconheceu a organização como uma entidade terrorista, banindo-a de seu território. Isso contribuiu para a decadência crescente da associação, diminuição do número de membros e de sua influência.

O renascimento da KKK

Em 1915, foi lançado o filme “O Nascimento de uma Nação”, que retratava afro-americanos, interpretados por atores brancos com as caras pintadas, como pessoas sem inteligência e com apetite sexual animal por mulheres brancas. A narrativa também pintava a Ku Klux Klan como uma força heroica nacional, e seu diretor, Jean Tulard, fazia questão de expressar publicamente sua simpatia pelos terroristas.

Provavelmente embalados e motivados pelo teor “heroico” do filme, banido em muitas regiões do país, um outro grupo da KKK foi criado, em defesa da supremacia branca. Para piorar, eles acrescentaram nacionalismo e xenofobia ao racismo habitual, perseguindo também católicos, judeus, asiáticos e imigrantes. Uma vertente mais radical ainda dentro do movimento fazia questão de “defender a moral”, perseguindo possíveis golpistas, prostitutas e marginais.

O novo grupo conseguiu reunir mais de 4 milhões de integrantes, adotando um símbolo que se tornaria mundialmente conhecido e associado ao terror: a cruz em chamas. Os assassinatos começaram a ocorrer de forma deliberada e cruel, prezando pela “assinatura” do crime na testa das vítimas, que tinha as letras “KKK” gravadas na testa.

Com a população em choque, o governo precisou aprovar uma lei para proibir o uso de máscaras fora de datas comemorativas, como o Dia das Bruxas, para evitar que os membros atacassem as vítimas sem possibilidade de reconhecimento facial. A medida pareceu surtir efeito, e, com o auxílio da Grande Depressão da década de 30, que assolou os EUA, a KKK acabou perdendo força novamente.


Resquícios do movimento

Na década de 60, os inúmeros movimentos aliados à defesa da igualdade racial nos Estados Unidos acabaram reacendendo alguns grupos isolados remanescentes da KKK, mas nada que pudesse ser considerado alarmista ou perigoso.

Para evitar que a organização voltasse com força, no futuro, finalmente, na década de 70, diversos grupos de ativistas “antiKlan” lotaram os tribunais com pedidos de indenizações às vítimas da KKK, que tiveram danos físicos e psicológicos ao longo da vida. A causa foi abraçada pelo sistema judiciário do país e, o grupo, que já passava por uma situação financeira delicada, acabou perdendo sua força de forma significativa.

Infelizmente, ainda existem casos isolados de “saudosistas” e “admiradores” da KKK, inclusive com grupos considerados “ramificações” da organização original, como a “Nação Ariana” e outros inspirados no neonazismo. Mas é importante ressaltar que, historicamente, comparando a força dos grupos, nos dias atuais sua influência é insignificante e combatida frequentemente pela justiça dos países, ao redor do mundo.

No Brasil, existem alguns grupos remanescentes inspirados na KKK, mas eles nunca foram expressivos. Acredita-se que o mais famoso, chamado “Klans Imperiais do Brasil”, possua hoje menos de 10 integrantes, sendo praticamente extinto quando, em 2003, a Polícia Federal prendeu o líder da seita e tirou o site do ar.

A KKK, no Brasil, costuma ser associada às pessoas e a grupos de ultradireita, como os diversos grupos skinheads (cabeças raspadas), nos quais a maioria dos membros são neonazistas que prezam pela superioridade da raça branca, combatendo, principalmente, negros, nordestinos e homossexuais.

Na última semana, em Niterói, no Rio de Janeiro, foram registrados diversos cartazes espalhados pelo município, de grupos associados ao Ku Klux Klan, ameaçando, especificamente, “comunistas, gays, judeus, muçulmanos e negros”. O grupo relacionado às ameaças, é justamente o “Klans Imperiais do Brasil”, que ainda dizem “estar de olho” nestes grupos, prometendo agir com violência em relação a “qualquer ato de agressão em solo brasileiro”.

Nos últimos dois anos, grupos neonazistas foram relacionados com crimes cometidos em Niterói, incluindo agressões contra um nordestino e um ato de vandalismo contra a sede de um grupo de diversidade racial.