terça-feira, 1 de novembro de 2016

Pela primeira vez, encontraram um fóssil do cérebro de um dinossauro

Fósseis de dinossauros não são sempre restos mineralizados de ossos. Por vezes, também encontramos pegadas, ou traços que indiquem o formato de asas, ou braços. Além disso, alguns paleontólogos têm a sorte de encontrar um segmento de tecido, incluindo pele, pelos e, como revelou uma publicação incrível da Geological Society of London, até mesmo cérebro!


Um caçador de fósseis, em expedição em Sussex, na Inglaterra, quase há uma década, tropeçou em um pequeno seixo marrom. Depois de passar por algumas análises de um grupo de paleontólogos, foi revelado que o seixo se tratava de um tecido fossilizado do cérebro de um Iguanodon, um dinossauro herbívoro que viveu cerca de 133 milhões de anos atrás.

Esse é o primeiro exemplar de tecido fossilizado do cérebro de um dinossauro já encontrado. Ainda que o tecido biológico não existe mais, os detalhes de suas estruturas foram bem preservados. Escaneamentos detalhados também revelaram que o fóssil indica como funcionavam as veias sanguíneas, ligações de colágeno, pelos e até mesmo algumas camadas de neurônios, tudo brilhantemente preservado pelo processo de conservação. O coautor do estudo, Alex Liu, da Universidade de Cambridge, disse ao ‘IFLScience’ que as tecidos cerebrais são os “os tecidos que menos esperavam encontrar em um fóssil de vertebrado terrestre”.

Escaneamento em 3D do cérebro descoberto. / University of Manchester


O dinossauro em questão parece ter morrido próximo a um pântano altamente ácido. Preso no pântano, deve ter ficado sem oxigênio. Os Iguanodons eram animais abastados, volumosos e bípedes, que se alimentavam da vegetação de baixa altitude e brigavam com seus predadores com seu bico. Eles viveram cerca de 20 milhões de anos depois dos Stegosauros e dos Archaeopteryx.

Eles pertenceram aos Ornitísquios, um grupo de dinossauros que não continham a verdadeira foram ancestral dos pássaros. Apesar disso, Liu observa que o cérebro em forma de salsicha desse herbívoro se parece muito com o de um pássaro, além de mostrar algumas semelhanças morfológicas com os crocodilos modernos.

Os répteis modernos têm cérebros relativamente pequenos, com a metade do espaço da cavidade craniana sendo ocupada por seios que servem como um sistema de drenagem do sangue. Curiosamente, o tecido desse cérebro de Iguanodon parece ter sido pressionado contra a estrutura óssea, sugerindo que os cérebros dos dinossauros podem ter sido bem maiores do que se acreditava. “Parece que o cérebro deste dinossauro era bem parecido semelhante ao dos pássaros modernos, na medida em que preenchia uma grande proporção do crânio”, disse Liu.

No entanto, é possível que a morte dramática do dinossauro tenha deslocado o cérebro de seu lugar original, fazendo com que ele tenha sido preservado contra o crânio, quando na verdade, originalmente, deveria ter outra disposição. Sem ver os lóbulos do cérebro em si, a equipe não pode ter certeza sobre o verdadeiro tamanho do órgão.


Arte mostrando como deveriam ser os Iguanodons. / David Roland/Shutterstock

O principal autor do estuado, o professor Martin Brasier, da Universidade de Oxford, morreu em um acidente de carro em 2014, no meio dos estudos acerca do fóssil, e a publicação especial que abordou as descobertas foram dedicadas ao seu trabalho. “O professor Brasier foi um colega que sempre nos apoiou, e tem sido um privilégio trabalhar para publicar um artigo sobre esse objeto muito especial, em um livro em sua memória”, disse o coautor Russel Garwood, da Universidade de Manchester, em entrevista ao IFLScience.