sexta-feira, 17 de abril de 2015

lendas gauchas


                                                                    Lenda da Branquinha

Numa época já bem distante, moradores de uma certa zona eram alarmados com as aparições de um fantasma, que diziam ter a forma de uma moça vestida de branco. Esse vulto, segundo os moradores, tinha o hábito de acompanhar os transeuntes que passavam por aquelas bandas. Em toda região, sempre existem os medrosos e os incrédulos, denominados "valentões". Numa sexta-feira à noite, meia dúzia de "valentões", providos de facões e outras armas, decidiram verificar a veracidade do tal fantasma e armaram uma emboscada no local onde a assombração geralmente aparecia. Era meia noite em ponto. Eis que surge a alma do outro mundo. É desnecessário dizer que a metade dos "valentões" recuou imediatamente, mas os mais corajosos seguiram a fim de enfrentar a assombração.
Imaginem qual não foi a surpresa: em vez de uma moça vestida de branco, um ser misterioso, eles encontraram simplesmente uma mansa vaquinha branca dando o seu costumeiro passeio noturno. E assim a vaca Branquinha entrou na história deste Viamão lendário, para perpetuar seu nome de uma maneira original, naquele recanto que, hoje, todos nós conhecemos como Branquinha.
10 anos de UTV, Ivone Costa.

                                                             Lenda do padre de Itapuã
Conta-se, que há muitos anos atrás, morava em Viamão, um jovem padre que, por opção própria ou fração do destino, escolheu uma das ilhas de Itapuã para morar. A ilha era solitária, totalmente intocada. Foi a escolha perfeita para um jovem padre que desejava solidão.
Ele construiu uma cabana rústica e ali vivia com o mínimo necessário para suprir suas necessidades. Fez da ilha seu retiro espiritual. Os moradores do vilarejo de Itapuã comentavam, com espanto, o fato de o padre querer viver tão só e logo surgiram boatos dos mais diversos.

As senhoras que freqüentavam a igreja indagavam ao vigário, mas este nada tinha a dizer, pois nem mesmo o seu nome sabia. Todos só o conheciam de vista quando ele ia ao vilarejo buscar suprimentos e fazer a sua confissão.
Os pescadores, sempre que passavam pela ilha, viam o padre fazendo caminhadas: viam-no cantando e louvando ao Senhor.
O tempo passou, o padre envelheceu e junto dele ficou somente a solidão, mas que com o passar do tempo arrebatou o seu coração e sua alma.
Os anos se passaram e as ídas ao vilarejo tornaram-se esparsas. Era raro as vezes que o solitário padre era visto pelo vilarejo.
Como tudo na vida nasce, cresce e um dia tem que morrer, assim aconteceu com o padre. A solidão também o acompanhou neste momento. Ninguém o velou, ninguém o enterrou, nem mesmo souberam de sua morte. Somente meses depois, sentiram a ausência de suas caminhadas, e devido a idade avançada do mesmo concluíram que ele havia partido para junto do senhor.
Alguns anos depois, um grupo de pescadores, que já se encontrava na lagoa há vários dias, aproximou-se da costa, lançando suas redes próximas a ilha do padre. Era a segunda noite de lua cheia. A lua era tão grande que parecia não caber no céu. Já eram meia-noite e as redes ainda estavam vazias. Os pescadores estava estarrecidos, pois em noites de lua cheia as redes também costumavam ficar cheias.
Desanimados, eles começaram a recolher as redes. Eis que de repente, ao olharem para a ilha, surpreenderam se com a lua acomodada atrás das rochas iluminando toda a areia. Então, eles viram o padre, todo de branco, solitário, caminhando ao redor da ilha.
Imediatamente os pescadores fugiram e rapidamente o boato espalhou-se. Desde este fato, muitos corajosos passaram a dormir na ilha, em noites de lua cheia, na esperança de ver o solitário padre dando sua caminhada.

                                                         As Bruxas da Estância Grande
Conta-se, que em certa época do ano, a lua cobria os campos com seu manto prateado, deixando a noite clara como o dia. Nesse tempo, os trabalhadores deixavam a roça mais cedo e os peões voltavam para as fazendas antes do sol sumir. As mulheres, já com a criançada dentro de casa, acendiam velas para seus santos de devoção e oravam ajoelhadas com o véu negro a tapar-lhes os cabelos.
Até os cães mais ferozes se escondiam com o rabo entre as pernas nos galpões e tafonas. Com as trancas nas portas e janelas, aguardava-se a longa e insone noite. Por volta da meia-noite, os animais começavam a se agitar. Ao uivo, mais que um lamento, de alguns dos cães, as éguas relinchavam e corriam espavoridas para todos os lados. De repente risadas. Estrepitosas risadas. Eram risadas de mulheres que misturavam-se às aflições das éguas. As mães, abraçadas aos filhos, corriam os dedos trêmulos pelas contas do rosário.


Enquanto isso, os maridos engatilhavam as velhas taquaris ( espingarda de um cano manuseada pela boca), iluminados pelo esfumaçado candeeiro, que com seu lusco fusco, distorcia mais ainda as faces temerosas e ainda criavam sombras bizarras e assustadoras. Aquela macabra sinfonia de ridas femininas e berros de animais parecia não ter mais fim.
Alguns mais destemidos contavam que eram mulheres montadas em pêlos, nas éguas, vestidas com panos sedosos que se agitavam como bandeira ao vento.
Ao amanhecer, as pessoas, em um constrangedor silêncio, iam saindo das casas para realizar seus afazeres habituais.
E as éguas? Bom, contam que as éguas encontravam-se extremamente extenuadas. Continuavam em suor e quase não podiam caminhar. E, em suas crinas e caudas, todos os fios estavam trançados de tal forma que era impossível destrançar tendo então que cortar. E, por isso, deixavam as éguas soltas no potreiro, para que as bruxas não pegassem as crianças.
10 anos de UTV, Ivone Costa.

                                                      Lenda dos Túneis de Viamão
Diz a lenda que quando a Igreja Matriz, Nossa Senhora da Conceição, estava sendo construída, enquanto um grupo erguia as paredes outro escavava, secretamente, um grande túnel.
O objetivo dos escravos era o de ter um lugar onde eles pudessem fugir por água. Existe uma entrada secreta, porém não se sabe ao certo onde. Em uma certa parte o túnel divide-se: uma parte tem saída para a Praia da Argola, em Itapuã e outra parte tem saída para o Rio Gravataí. Os moradores mais antigos afirmam que os túneis também têm saída para a Escola Stella Maris e para o prédio no qual funcionava o seminário.
Diz a lenda que o primeiro escravo que conseguiu fugir, chegando à praia, deixou uma argola cravada em uma pedra. A tradição permaneceu: cada um que conseguisse fugir deixaria ali a sua marca. Algumas pedras ainda podem ser encontradas no local.
Diz a lenda que nas noites de muita calmaria, lá pelas bandas da Vila Elza, ainda ouve-se o barulho dos escravos escavando o túnel.